O desenvolvimento de hormônio sintético a partir dos 3 produtos base, que são a testosterona, nandrolona e diidrotestosterona, possui alguns problemas que devem ser resolvidos, como a criação de drogas administradas oralmente, pois esta forma pode ser quebrada facilmente se passada pelo fígado antes de chegar na circulação. Outro desafio encontrado é o fato de que, em sua forma natural, o hormônio natural tem uma meia-vida curta no corpo, portanto, a administração se torna desconfortável pois necessitaria-se de injeções com uma frequência muito alta como diariamente, sendo isso desconfortável. Este foi o maior desafio na industria durante o tempo de desenvolvimento.
Composição Molecular da Testosterona
Compostos Metilados e Dosagem Oral
Químicos perceberam que trocando o hidrogênio do átomo de um esteroide na sua posição 17 alfa por um carbono (processo conhecido como alquilação), sua estrutura poderia ser notadamente resistente a quebra pelas enzimas do fígado. O átomo de carbono é normalmente adicionado na forma de um grupo metil (CH3) mas apesar disso, é comum ver esteroides orais com a adição do grupo etil (C2H5). O esteroides com esta composição são conhecidos como C-17 alfa alquilados orais,
O grupo alquil não pode ser removido metabolicamente, inibindo a redução do esteroide para sua forma inativa (17-ketosteroide). Com base nisso, a indústria farmacêutica tem produzido uma série de produtos nessa forma, como a Metiltestosterona, Dianabol, Winstrol, Anadrol 50, Halotestin, Orabolin e Anavar.
O lado negativo deste tipo de composto é o stress causado ao fígado. Além disso, outros efeitos colaterais podem ser notados, como a propensão a conversão para estrogênio, apesar de reduzir sua capacidade de interagir com a aromatase. Aparentemente, o que ocorre é que com a 17-alquilação a aromatização, quando ocorre, produz uma forma mais ativa do estrogênio, normalmente 17-alfa-metil u 17-alta-etil estradiol. Este estrogênio é biologicamente mais ativo que sua forma normal devido a sua maior meia-vida e menor tendência a ligação com as proteínas séricas. Existe também a possibilidade do aumento da habilidade do componente inicia se ligar e ativar o receptor de progesterona e estrogênio. Um aumento das propriedades estrogênicas é visto em relação a Metandrostenolona (Dianabol) a qual é uma forma alquilada da boldenona (Eqiopoise) e Nilevar, o qual é uma alquilada da nandrolona. DIanabol é notadamente mais estrogênica que a boldenona.
A alquilação normalmente reduz a afinidade do esteroide com o receptor androgênico como no caso da Dianabol e Winstrol Oral. Apesar disso, devido a maior meia-vida atribuida a alquilação, existe uma tendencia maior do esteroide ficar disponível na forma livre. Isto explica o fato da Dianabol e Winstrol serem efetivos em baixas doses semanais, como 250mg/semana comparado com os injetáveis com média de 500mg/semana para se ter o mesmo efeito anabólico.
Orais Não-Alquilados
Com o objetivo de resolver os problemas relacionados a toxicidade ao fígado, alguns outros componentes foram criados com alterações químicas no composto, como o caso da Primabolan, Proviron e Andriol. Proviron e Primobolan são alquilados na posição 1 (metil), a qual reduz a redução ao ketosteroide. Primabolan também utiliza o 17 beta ester (acetato) para proteger contra redução à forma inativa. Apesar de menos toxicos ao fígado, eles são mais sensíveis a quebra, tornando-se menos ativos miligrama por miligrama em relação aos alquilados.
Ester e Compostos Injetáveis
Notamos que os compostos injetáveis tem nomenclatura diferente e maior, como por exemplo cipionato de testosterona e enantato de testosterona. Cipionato e Enantato são ésteres (ácido carboxílico) que são ligado ao grupo 17-beta hidroxil da molécula de testosterona, o que aumenta a vida da substancia. Esta alteração reduz a solubilidade em água e aumenta a solubilidade em óleo.
Uma vez injetado, o esteroide é depositado no muculo e é lentamente lançado na circulação sanguínea. Normalmente quanto maior o éster, mais solúvel em óleo ele será e também demorará mais para ser alcançada a dosagem total. Uma vez livre na circulação, enzimas irão quebrar o éster e tornar o hormônio livre para alcançar os receptores e exercer sua atividade. Enquanto esterificado, com a cadeia do ester ligada, o esteroide é inativo. É necessário que seja quebrado o éster para que seja ativado, isso explica o fato do músculo onde foi injetado não crescer mais do que o restante dos músculos. Sem ser quebrado pelas enzimas e retornar livre na circulação, não há atividade hormonal.
Existe uma lista enorme de ésteres desenvolvidos, com tempos de lançamento diferentes. Um ester como o decanoato, pode demorar de 3 a 4 semanas para ser ativado, enquanto o propionato e acetato, alguns dias.
É importante salientar que o peso do composto por dosagem , não corresponde exatamente a quantidade base ativa. Por exemplo, 100mg de enantato terá 72mg de composto ativo no corpo. Em alguns casos o éster pode ter um peso de até 40% do composto total, mas normalmente esse valor gira entre 15% e 35%. Abaixo é possível ver a tabela com a proporção citada:
Proporção esteroide e equivalente livre biodisponível
É importante notar o fato que o éster não muda as propriedades do esteroide, sua função é apenas alterar o tempo de lançamento na corrente. Apesar disso, é muito comum ouvir pessoas dizendo que o propionato retém menos que o enantato de testosterona. Isso é completamente sem fundamento; O que ocorre é que esteres mais curtos, irão estar mais rapidamente disponíveis e com isso, mais rapidamente propensos a aromatização rápida, já o cipionato irá demorar mais na corrente, estando mais propenso a aromatização lenta. Um propionato administrado em doses proporcionalmente altas irá aromatizar mais do que um cipionato de testosterona administrado em doses baixas ou ideais.
É importante notar que enquanto alguns ésteres são hidrolizados na circulação geral, outros com a cadeia mais curta (acetato ou propionato) podem ser hidrolizados mais rapidamente próximo ao local da injeção. Isso pode causar uma liberação mais rápida do produto ativo (livre ou biodisponível) no musculo onde foi injetado, fazendo com que ele tenha uma resposta melhor que o restante. Apesar disso, esteres com cadeia curta costumam ser mais dolorosos em algumas pessoas, reduzindo assim a capacidade da pessoa exercitar aquele musculo durante o treino, Portanto, é importante pesar os p´ros e contras em relação a este fato, que acima de tudo, não representa o principal meio de crescimento muscular.
Dissociação Anabólico/Androgênico
Durante o tempo de produção dos hormônios sintéticos, cientistas tem ao máximo tentado separar a associação para torná-la inversamente proporcional, ou seja, normalmente quanto maior o poder anabólico, maior também os efeitos androgênicos, e assim também, os efeitos colaterais. O maior desafio hoje na industria deste segmento é trazer um produto que tenha grandes propriedades anabólicas e com baixa androgenicidade.
Nandrolona e os 19-norandrogenos
A nandrolona é identica a testosterona com exceção da carência de um carbono na 19ª posição do átomo, por isso foi dado o nome de 19 nortestosterona. Nandrolona é muito interessante porque ela oferece uma relação anabolico/androgênico muito favorável entre os 3 esteroides naturais. Isto ocorre pelo fato de ser metabolizado em uma estrutura menos potente (diidronandrolona) nos tecidos com alta concentração da enzima 5-alfa-redutase. Isto é exatamente o oposto do que acontece com a testosterona. Aparentemente a remoção da ligação dupla C4-5, a qual normalmente aumenta a ligação ao receptor androgenico na testosterona, causa uma supreendente redução dessa possibilidade na nandrolona. Ao invés de se tornar 3 a 4 vezes mais potente, torna-se muito mais fraco. Isto ocorre com a maioria dos esteroides derivados da Nandrolona, fazendo dele um excelente esteroide base para a produção de novos compostos derivados.
Esteroides 5-alfa-irredutíveis
Existe uma característica familiar entre os esteroides Primoboloan, Winstrol e Anavar. Estes esteroides são derivados de DHT porém não são afetados pelo efeito da 5-alfa-redutase(5AR), por isso não se tornam nem fraco nem forte em resposta a sensibilidade do tecido alvo com concentração alta dessas enzimas. Há um equilíbrio na ação do composto fazendo dele menos androgênico que a testosterona. Isto explica o fato de serem o tipo de anabólico com menor taxa de efeitos colaterais. Apesar disso, seu uso não é totalmente liberado para mulheres, devendo levar em consideração a possibilidade de efeitos colaterais.
Enzima 3-alfa-hidroxisteroide dehidrogenase (3-HSD)
Eta enzima também é muito importante, pois pode reduzir consideravelmente o potencial anabólico de alguns esteroides. Como foi visto, nem todos os esteroides que se ligam fortemente aos receptores androgenicos são grandes construtores musculares, e um dos fatores mais importantes sobre isso pode ser esta enzima.
DHT é um grande exemplo disso, porém, quando a testosterona é convertida em DHT, da mesma forma ela é rapidamente convertida em sua forma inativa, que é o Androstenediol e assim, evita que o DHT se ligue em tecidos onde é indesejado, antes de alcançar os receptores androgênicos. Esta ação ocorre através da enzima 3-HSD.
Esta enzima é bastante presente em certos tecidos, como o músculo esquelético e o DHT é muito mais propenso a sua ação que outros esteroides que possuem a ligação dupla C4-5, como a testosterona. Isto torna o DHT pouco anabólico apesar de possuir uma afinidade alta com os receptores androgênicos. Se fosse possível alcançar os receptores sem interagir com o 3-HSD, ele seria um potente contrutor muscular, mas não é o caso, como pode ser percebido com o uso de Primobolan, que é em essência, uma forma oral de DHT e conhecido por ser um pobre construtor muscular.
45. A comparative study of the metabolic fate of testosterone, 17alpha-methyltestosterone, 19-nor-testosterone, 17alpha-methyl-19-nor-testosterone and 17alpha-methyl-estr-5(10)-ene-17beta-ol-3-one in normal males. Dimick D, Heron M, et al. Clin Chim Acta 6(1961) 63-71.
46. Unique steroid congeners for receptor studies. Ojasoo T, Raynaud J. Cancer Research 38 (1978) 4186-98
47. Cytosolic androgen receptor in regenerating rat levator ani muscle. Max S.R. Mufti S, Carlson B.M. J Biochem 200 (1981) 77
48. In vitro binding and metabolism of androgens in various organs: a comparative study. Kreig M., Voigt K.D. J Steroid Biochem 7 (1976) 1005
49. Androgen concentrations in sexual and non-sexual skin as well as striated muscle in man. Deslypere J.P., Sayed A., Verdonck L., Vermeulen A. J Steroid Biochem 13 (1980) 1455-8