domingo, 24 de abril de 2016

Química dos Esteróides Sintéticos



Todos os esteroides anabólicos/androgênicos são preparados contendo um dos 3 hormônios naturais ou alterações quimicamente derivadas dos mesmos, que são a testosterona, nandrolona e diidrotestosterona. Para se criar um novo esteroide, inicialmente um dos 3 hormônios naturais é selecionado de acordo com a característica básica que se deseja obter. Dentre os 3 básicos, o DHT é o único que não possui a possibilidade de aromatização nem redução pela 5-AR.  A Nandrolona é escolhida quando se deseja ter uma baixa androgenicidade, devido a sua fraca interação com a 5-AR, além do seu tempo mais lento de aromatização. A Testosterona é o mais potente construtor muscular, porém exibe uma forte atividade androgênica devido a sua conversão para uma forma mais potente (diidrotestosterona) quando interage com a 5-AR.


Derivados de Testosterona


Boldenona - Boldenona é a testosterona com a adição de uma ligação dupla entre os átomos do carbono um e dois (C1-2). Esta alteração reduz drasticamente a aromatização, sendo até metade da testosterona. Além disso, também reduz sua afinidade com a enzima 5-alfa-redutase(5-AR) e sua forma mais ativa, a 5-alfa-diidroboldenona é produzida em uma quantidade muito pequena em humanos. Este hormônio tem a tendência de converter em 5-beta-diidroboldenona, sendo uma forma inativa. A C1-2 também reduz sua chance de quebra pelas enzimas hepáticas, aumentando a resistência à inativação para 17-ketosteroid, meia-vida e biodisponibilidade na forma oral.


Metiltestosterona - Este é o derivado mais básico da testosterona, diferindo apenas pela adição da 17-alfa-metilação, fazendo dele, a forma oral de testosterona. Esta conversão o torna extremamente estrogênico.


Metandrostenolona - A metandrostenolona possui muitas características similares a boldenona, como baixa atividade estrogênica e androgênica. Apesar disso, possui a reputação de ser bastante estrogênico, devido ao fato que ele converte-se a uma forma altamente ativa de estrogênio, a 17-alfa-metilestradiol. No entanto, é muito mais ativo miligrama por miligrama e disponibilidade também maior que a boldenona.


Derivados de Nandrolona


Trembolona - Apesar de derivado da Nandrolona, possui características muito diferentes devido a sua ligação dupla C9-10. Isso permite a inibição da aromatização. A ligação dupla C11-12 adicionalmente aumenta a ligação ao receptor androgênico e também não reduz pela 5-alfa-redutase, como a nandrolona, porém a trembolona é muito mais androgênica.


Derivados da Dihidrotestosterona


Mesterolona (Proviron) - É uma versão potente oral da diidrotestosterona e similarmente a metenolona, possui um grupo 1 metil não toxico, com resistência a quebra pelas enzimas hepáticas, porém não é resistente a 3-keto, sendo um anabólico pobre.

Drostanolona (Masteron) - A drostanolona é simplesmente a diidrotestosterona com a adição do grupo 2-metil. Isto aumenta a estabilidade do grupo 3-keto, vital para a ligação androgênica.

Oximetolona - É um esteroide derivado oral da diidrotestosterona. O grupo 2-hidroximetileno ´pssui características peculiares e não visto em nenhum outro esteroide. Este grupo aumenta bastante o potencial anabólico aumentando a estabilidade da 3-keto e possui a característica de ativar o receptor estrogenico.

Stanozolol - Um esteroide anabólico potente devido ao grupo 3-2 pyrazol criar uma configuração estável que permite a ligação forte ao receptor androgênico e bastante ativo no tecido muscular, ao contrário da diidrotestosterona.

Oxandrolona - Também derivado do DHT, possui a substituição da molécula do carbono 2 com oxigênio, sendo o único que carrega esse grupo, por isso o nome "Ox". O grupo 2-Oxo aumenta a resistência do grupo 3-keto para o metabolismo consideravelmente, sendo ele um anabólico potente.

sábado, 23 de abril de 2016

Desenvolvimento Químico dos Anabolizantes

O desenvolvimento de hormônio sintético a partir dos 3 produtos base, que são a testosterona, nandrolona e diidrotestosterona, possui alguns problemas que devem ser resolvidos, como a criação de drogas administradas oralmente, pois esta forma pode ser quebrada facilmente se passada pelo fígado antes de chegar na circulação. Outro desafio encontrado é o fato de que, em sua forma natural, o hormônio natural tem uma meia-vida curta no corpo, portanto, a administração se torna desconfortável pois necessitaria-se de injeções com uma frequência muito alta como diariamente, sendo isso desconfortável. Este foi o maior desafio na industria durante o tempo de desenvolvimento.


Composição Molecular da Testosterona


Compostos Metilados e Dosagem Oral 


Químicos perceberam que trocando o hidrogênio do átomo de um esteroide na sua posição 17 alfa por um carbono (processo conhecido como alquilação), sua estrutura poderia ser notadamente resistente a quebra pelas enzimas do fígado. O átomo de carbono é normalmente adicionado na forma de um grupo metil (CH3) mas apesar disso, é comum ver esteroides orais com a adição do grupo etil (C2H5). O esteroides com esta composição são conhecidos como C-17 alfa alquilados orais,


O grupo alquil não pode ser removido metabolicamente, inibindo a redução do esteroide para sua forma inativa (17-ketosteroide). Com base nisso, a indústria farmacêutica tem produzido uma série de produtos nessa forma, como a Metiltestosterona, Dianabol, Winstrol, Anadrol 50, Halotestin, Orabolin e Anavar. 

O lado negativo deste tipo de composto é o stress causado ao fígado. Além disso, outros efeitos colaterais podem ser notados, como a propensão a conversão para estrogênio, apesar de reduzir sua capacidade de interagir com a aromatase. Aparentemente, o que ocorre é que com a 17-alquilação a aromatização, quando ocorre, produz uma forma mais ativa do estrogênio, normalmente 17-alfa-metil u 17-alta-etil estradiol. Este estrogênio é biologicamente mais ativo que sua forma normal devido a sua maior meia-vida e menor tendência a ligação com as proteínas séricas. Existe também a possibilidade do aumento da habilidade do componente inicia se ligar e ativar o receptor de progesterona e estrogênio. Um aumento das propriedades estrogênicas é visto em relação a Metandrostenolona (Dianabol) a qual é uma forma alquilada da boldenona (Eqiopoise) e Nilevar, o qual é uma alquilada da nandrolona. DIanabol é notadamente mais estrogênica que a boldenona.

A alquilação normalmente reduz a afinidade do esteroide com o receptor androgênico como no caso da Dianabol e Winstrol Oral. Apesar disso, devido a maior meia-vida atribuida a alquilação, existe uma tendencia maior do esteroide ficar disponível na forma livre. Isto explica o fato da Dianabol e Winstrol serem efetivos em baixas doses semanais, como 250mg/semana comparado com os injetáveis com média de 500mg/semana para se ter o mesmo efeito anabólico.

Orais Não-Alquilados

Com o objetivo de resolver os problemas relacionados a toxicidade ao fígado, alguns outros componentes foram criados com alterações químicas no composto, como o caso da Primabolan, Proviron e Andriol. Proviron e Primobolan são alquilados na posição 1 (metil), a qual reduz a redução ao ketosteroide. Primabolan também utiliza o 17 beta ester (acetato) para proteger contra redução à forma inativa. Apesar de menos toxicos ao fígado, eles são mais sensíveis a quebra, tornando-se menos ativos miligrama por miligrama em relação aos alquilados.

Ester e Compostos Injetáveis


Notamos que os compostos injetáveis tem nomenclatura diferente e maior, como por exemplo cipionato de testosterona e enantato de testosterona. Cipionato e Enantato são ésteres (ácido carboxílico) que são ligado ao grupo 17-beta hidroxil da molécula de testosterona, o que aumenta a vida da substancia. Esta alteração reduz a solubilidade em água e aumenta a solubilidade em óleo.

Uma vez injetado, o esteroide é depositado no muculo e é lentamente lançado na circulação sanguínea. Normalmente quanto maior o éster, mais solúvel em óleo ele será e também demorará mais para ser alcançada a dosagem total. Uma vez livre na circulação, enzimas irão quebrar o éster e tornar o hormônio livre para alcançar os receptores e exercer sua atividade. Enquanto esterificado, com a cadeia do ester ligada, o esteroide é inativo. É necessário que seja quebrado o éster para que seja ativado, isso explica o fato do músculo onde foi injetado não crescer mais do que o restante dos músculos. Sem ser quebrado pelas enzimas e retornar livre na circulação, não há atividade hormonal.

Existe uma lista enorme de ésteres desenvolvidos, com tempos de lançamento diferentes. Um ester como o decanoato, pode demorar de 3 a 4 semanas para ser ativado, enquanto o propionato e acetato, alguns dias. 

É importante salientar que o peso do composto por dosagem , não corresponde exatamente a quantidade base ativa. Por exemplo, 100mg de enantato terá 72mg de composto ativo no corpo. Em alguns casos o éster pode ter um peso de até 40% do composto total, mas normalmente esse valor gira entre 15% e 35%. Abaixo é possível ver a tabela com a proporção citada:



Proporção esteroide e equivalente livre biodisponível


É importante notar o fato que o éster não muda as propriedades do esteroide, sua função é apenas alterar o tempo de lançamento na corrente. Apesar disso, é muito comum ouvir pessoas dizendo que o propionato retém menos que o enantato de testosterona. Isso é completamente sem fundamento; O que ocorre é que esteres mais curtos, irão estar mais rapidamente disponíveis e com isso, mais rapidamente propensos a aromatização rápida, já o cipionato irá demorar mais na corrente, estando mais propenso a aromatização lenta. Um propionato administrado em doses proporcionalmente altas irá aromatizar mais do que um cipionato de testosterona administrado em doses baixas ou ideais.


É importante notar que enquanto alguns ésteres são hidrolizados na circulação geral, outros com a cadeia mais curta (acetato ou propionato) podem ser hidrolizados mais rapidamente próximo ao local da injeção. Isso pode causar uma liberação mais rápida do produto ativo (livre ou biodisponível) no musculo onde foi injetado, fazendo com que ele tenha uma resposta melhor que o restante. Apesar disso, esteres com cadeia curta costumam ser mais dolorosos em algumas pessoas, reduzindo assim a capacidade da pessoa exercitar aquele musculo durante o treino, Portanto, é importante pesar os p´ros e contras em relação a este fato, que acima de tudo, não representa o principal meio de crescimento muscular.

Dissociação Anabólico/Androgênico


Durante o tempo de produção dos hormônios sintéticos, cientistas tem ao máximo tentado separar a associação para torná-la inversamente proporcional, ou seja, normalmente quanto maior o poder anabólico, maior também os efeitos androgênicos, e assim também, os efeitos colaterais. O maior desafio hoje na industria deste segmento é trazer um produto que tenha grandes propriedades anabólicas e com baixa androgenicidade.

Nandrolona e os 19-norandrogenos


A nandrolona é identica a testosterona com exceção da carência de um carbono na 19ª posição do átomo, por isso foi dado o nome de 19 nortestosterona. Nandrolona é muito interessante porque ela oferece uma relação anabolico/androgênico muito favorável entre os 3 esteroides naturais. Isto ocorre pelo fato de ser metabolizado em uma estrutura menos potente (diidronandrolona) nos tecidos com alta concentração da enzima 5-alfa-redutase. Isto é exatamente o oposto do que acontece com a testosterona. Aparentemente a remoção da ligação dupla C4-5, a qual normalmente aumenta a ligação ao receptor androgenico na testosterona, causa uma supreendente redução dessa possibilidade na nandrolona. Ao invés de se tornar 3 a 4 vezes mais potente, torna-se muito mais fraco. Isto ocorre com a maioria dos esteroides derivados da Nandrolona, fazendo dele um excelente esteroide base para a produção de novos compostos derivados.

Esteroides 5-alfa-irredutíveis


Existe uma característica familiar entre os esteroides Primoboloan, Winstrol e Anavar. Estes esteroides são derivados de DHT porém não são afetados pelo efeito da 5-alfa-redutase(5AR), por isso não se tornam nem fraco nem forte em resposta a sensibilidade do tecido alvo com concentração alta dessas enzimas. Há um equilíbrio na ação do composto fazendo dele menos androgênico que a testosterona. Isto explica o fato de serem o tipo de anabólico com menor taxa de efeitos colaterais. Apesar disso, seu uso não é totalmente liberado para mulheres, devendo levar em consideração a possibilidade de efeitos colaterais.

Enzima 3-alfa-hidroxisteroide dehidrogenase (3-HSD)


Eta enzima também é muito importante, pois pode reduzir consideravelmente o potencial anabólico de alguns esteroides. Como foi visto, nem todos os esteroides que se ligam fortemente aos receptores androgenicos são grandes construtores musculares, e um dos fatores mais importantes sobre isso pode ser esta enzima.
DHT é um grande exemplo disso, porém, quando a testosterona é convertida em DHT, da mesma forma ela é rapidamente convertida em sua forma inativa, que é o Androstenediol e assim, evita que o DHT se ligue em tecidos onde é indesejado, antes de alcançar os receptores androgênicos. Esta ação ocorre através da enzima 3-HSD.

Esta enzima é bastante presente em certos tecidos, como o músculo esquelético e o DHT é muito mais propenso a sua ação que outros esteroides que possuem a ligação dupla C4-5, como a testosterona. Isto torna o DHT pouco anabólico apesar de possuir uma afinidade alta com os receptores androgênicos. Se fosse possível alcançar os receptores sem interagir com o 3-HSD, ele seria um potente contrutor muscular, mas não é o caso, como pode ser percebido com o uso de Primobolan, que é em essência, uma forma oral de DHT e conhecido por ser um pobre construtor muscular.

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domingo, 17 de abril de 2016

Conversão em DHT

Da mesma forma que funciona para o estrogênio, é também com a diidrotestosterona (DHT), levando em conta que em relação aos efeitos dos esteroides, devemos olhar para todos os metabólitos e não apenas o componente inicial.

Inicialmente, devemos levar em conta que a potencia da testosterona é consideravelmente aumentada em muitos tecidos androgenicamente responsivos quando convertem em DHT. Ele hormônio é, de fato, aproximadamente 3 ou  vezes mais forte que a testosterona. É o mais potente esteroide naturalmente encontrado no corpo e é muito importante estudá-lo se quiser entender o funcionamento completo da testosterona e dos anabólicos que possuem conversão similar.

A testosterona é convertida em DHT devido a interação com a enzima 5-alfa-redutase (5-AR). Mais especificamente, essa enzima remove a ligação dupla C4-5 da testosterona e adiciona 2 átomos de hidrogênio na estrutura (por isso o nome diidrotestosterona). A remoção dessa ligação é importante para formar um esteroide que se liga mais fortemente aos receptores androgênicos. 5-AR é presente em quantidades quantidades no tecido prostático, pele, couro cabeludo, fígado e várias regiões do sistema nervoso central e assim, representa o mecanismo para o corpo aumentar a potencia da testosterona, especificamente onde é necessária uma forte ação. Nestas áreas do corpo, pouca testosterona irá fazer o caminho para o receptor sem ser convertido em DHT, fazendo do DHT de longe, a fora ativa do androgênico.

DHT e Efeitos Colaterais Androgênicos

Alguns efeitos do potencial da testosterona não são totalmente compreendidos. Em alguns tecidos, alguns efeitos indesejados podem ocorrer devido a atividade da diidrotestosterona. Pode-se citar o aparecimento de acne como um dos efeitos indesejados sobre as glândulas sebáceas e a calvice, devido a atividade no couro cabeludo. Apesar disso, é importante salientar que todos os esteroides anabólicos/androgênicos podem apresentar esta atividade sobre o mesmo receptor. A diferença é que a DHT é mais ativa em relação a ligação aos receptores e podem ser formados localmente em alguns tecidos mais sensíveis aos efeitos androgênicos.

Benefícios do DHT


Apesar dos efeitos colaterais sobre o excesso do DHT, existe alguns benefícios que devem ser citados. O DHT é muito importante ao bom funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), e estudos demnstram que este hormônio tem um impacto muito positivo, até mesmo maior que a testosterona, em células androgenicamente sensíveis nesta área. Estudos com animais demonstraram que Testosterona e DHT foram importantes na proliferação de receptores androgênicos nesta área após 7horas da administração, porém, apenas o DHT foi capaz de manter este efeito prolongado por mais 21h.  Especula-se que os 2 hormônios possuem uma ação diferente, onde a transcrição do gene após a ligação do receptor é feita de forma diferente no DNA celular.

Com isso, é importante notar que manter os níveis de DHT estáveis é muito importante para o bom funcionamento do SNC. Isso pode-se preceber pelo fato de que bodybuilders reportam redução dos efeitos nos anabólicos com o uso de inibidores da enzima 5-alfa-redutase durante o ciclo. Isso comprova que não podemos apenas atribuir a testosterona a responsabilidade dos efeitos de ganho de massa e ainda ha muito o que se descobrir sobre a influência do DHT no ganho de massa.

4. Neural androgen receptor regulation: effects of androgen and antiandrogen. Lu S, Simon NG, Wang Y, Hu S. J Neurobiol 1999 Dec;41(4):505-12

  

Estrogenio

A testosterona é o substrato primário usado no corpo do homem para síntese do estrogênio (estradiol), o principal hormônio sexual feminino e tem sua estrutura muito parecida com a testosterona. Com uma pequena alteração pela enzima aromatase, o estrogênio é produzido.

Sua atividade ocorre em várias regiões do corpo, como tecido adiposo, fígado, gonada, sistema nervoso central (SNC) e tecido muscular esquelético. Apesar de inferior no corpo do homem, é responsável também pelo bom funcionamento de alguns fatores, como o colesterol. Apesar disso, em quantidades superiores, é capaz de produzir efeitos indesejados como retenção de líquido, crescimento do tecido mamário (ginecomastia) e acúmulo de gordura (body fat). Por isso, muitos fisiculturistas se preocupam em manter os níveis estáveis através do uso de inibidores de aromatase como Arimidex (anastrozol) ou anti-estrogênio como clomid e nolvadex (clomifeno e tamoxifeno), principalmente com a preocupação referente a ginecomastia.

Não deve-se pensar que o estrogênio não tem benefícios, pois em muitos casos ele é desejado. Esteroides estrogênicos são os melhores construtores de massa, e os motivos vão além da retenção de água, tendo efeito direto no processo de anabolismo como no aumento da utilização de glicose, secreção do hormônio do crescimento (GH) e proliferação dos receptores androgenicos.


Estrogênio e a utilização da Glicose

O estrogênio possui um importante papel na promoção do estado anabólico
 devido ao efeito na utilização da glicose no tecido muscular, alterando o nível de disponibilidade da enzima glicose-6-posfato dehydrogenase (G6PD), diretamente ligada ao uso da glicose para recuperação e crescimento do tecido muscular.

Mais especificamente, a G6PD é parte vital da via da pentose fosfato, que é essencial na determinação da taxa de ácidos nucleicos e lipídios que são sintetizados na célula para reparo. Após o estresse muscular (atividade física) os níveis de G6PD aumentam bastante, acreditando-se representar o mecanismo para aumento na recuperação. O estrogênio está diretamente ligado ao nivel de G6PD disponível nas células nesse período de recuperação.

A associação entre a G6PD e o Estrogênio foi estabelecido em estudos que demonstram o aumento dos níveis da enzima dehydrogenase depois da administração de propionato de testosterona. Uma investigação mais profunda mostrou que a aromatização da testosterona em estradiol foi diretamente responsável por esse aumento e não a ação direta do esteróide.

Ao mesmo tempo, esteroides não aromatizáveis como dihidrotestosterona e fluoximesterona também foram testados, porém, falharam em duplicar o efeito da testosterona. Além disso, os efeitos positivos do propionato foram bloqueados quando os efeitos da 4-hydroxyandrostenediona (formestane) foram adicionados, enquanto a administração do 17-beta estradiol isolada também causou um efeito similar no aumento da G6PD para o propionato.

O isômero inativo do estrogênio, o alfa estradiol, o qual é incapaz de conexão ao receptor de estrogênio, falhou em tudo. Testes usando propionato de testosterona e o anti-estrogênico flutamida mostraram que esta droga nao conseguiu bloquear o efeito positivo da testosterona, estabelecendo este como um efeito independente do receptor androgênico.

Estrogenio e GH/IGF-1


Estrogênio também tem um papel importante na produção do GH (hormônio do crescimento) e IGF-1 (insulin-like growth factor). IGF-1 é um hormônio anabólico lançado no fígado e tecidos periféricos pelo estímulo do GH. O IGF-1 é responsável pela atividade anabólica do GH, como o aumento da retenção de nitrogênio e síntese de proteína e hiperplasia celular.

Estudos mostraram também a relação do tamoxifeno na supressão da produção do IGF-1 pelo uso do anti-estrogenico tamoxifeno, mostrando seu efeito supressivo. Um segundo estudo, em 1993, mostrou comparação do efeito da terapia de reposição hormonal (TRT) sozinha e combinada com tamoxifeno, nos níveis de GH e IGF-1. Quando administrado com tamoxifeno, os níveis de GH e IGF-1 foram notavelmente suprimidos, enquanto ambos foram aumentados com a administração de enantato de testosterona sozinho. Outro estudo mostrou que 300mg de enantato de testosterona administrado semanalmente causou um suave aumento do IGF-1 em homens normais. 300mg causaram um aumento dos níveis de estradiol, como esperado para esta dose. Isto foi comparado ao efeito da mesma dosagem de decanoato de nandrolona, porém, este esteróide falhou em produzir o mesmo aumento e ao contrário, os níveis de estrogênio foram reduzidos com o uso deste esteroide.

Estrogênio e o Receptor Androgênico


Foi também demonstrado que o estrogênio pode aumentar a concentração dos receptores androgênicos em alguns tecidos. Em estudos com ratos, os quais olharam o efeito do estrogênio no receptores androgênicos em animais que tiveram sua produção de testosterona endógena suprimido. De acordo com o estudos o uso de metiltrienolona,um andrógeno oral potente frequentemente usado para estudos referentes aos receptores de ligação. A explicação sugerida é que o estrogênio deve estimular diretamente tanto a produção de receptores androgênicos e diminuir a taxa de redução.

Estrogênio e a Fadiga

"Fadiga de esteroides" é um termo comum atual e refere-se a um outra função importante do estrogênio no corpo masculino e feminino, que é manter o estado de alerta. Com o maior uso atual de anti-aromatase, alguns bodybuilders percebem uma supressão maior do que no passado, frequentemente associado com a supressão está a fadiga. Sob tal condição o atleta em um ciclo de drogas, talvez não seja capaz de maximizar seus ganhos com a inabilidade de treinar em vigor total.

Este efeito é também conhecido como "letargia por esteroides". A razão é que o estrogênio tem um importante suporte na atividade da serotonina, que é um dos neurotransmissores principais no corpo, vital para o alerta mental e ciclo de sono (dormir/acordar). Interferência nesses neurotransmissores é bastante associada a síndrome da fadiga crônica, sendo assim, perceptível sua importância.

Apesar de ser importante levar esse fato em consideração, nem todos percebem este problema quando o estrogênio etá baixo, mas quando ocorre, um aumento do estrogênio pode ser fundamental para o restabelecimento das funções normais. Isto as vezes é notado também com o uso de esteroides não-aromatizáveis, que podem acusar uma redução na testosterona endógena, ou seja, do principal substrato para a produção de estrogênio.

Anti-Estrogênio e o Atleta

É importante perceber a necessidade de uma abordagem cautelosa de medicamentos para manipular os níveis de estrogênio a não ser que esteja em fase de cutting. Anti-estrogênio só deve ser usado quando há clara necessidade devido ao aparecimento de efeitos secundários ou pelo menos a troca por esteroides não aromatizáveis. Ginecomastia é, claramente, um efeito indesejado, porém se ele não for muito pronunciado, deve-se considerar o não uso de drogas secundárias, pois seu não uso poderá ajudar na formação da massa muscular e manter o estado de energia. Por isso, deve-se considerar o não uso dessas drogas contra aromatização de forma a alcançar ganhos máximos possíveis em massa muscular.


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Testosterona Total e Livre

A testosterona livre ou biodisponível, capaz de interagir com seus receptores, existe em uma quantidade muito inferior a quantidade total corrente no sangue. Isso ocorre por causa de duas proteínas chamada SHBG (sexual hormone binding globulin ou globulina transportadora de hormônios sexuais) e a albumina, responsáveis por se ligar a testosterona e bloquear a conexão do hormônio ao receptor.

A conexão do hormônio ao SHBG é aproximadamente 1000 vezes maior que a Albumina, porém, a albumina está presente mil vezes mais que o SHBG. Então, a atividade delas no corpo é praticamente igual. A distribuição da testosterona ligada no corpo é geralmente 45% com o SHBG e 53% com a albumina. Os 2% restantes ficam em forma livre e na mulher esse percentual é aproximadamente 1%.

Uma proteína de ligação chamada ABP (androgen binding protein ou proteina de ligação androgênica) também ajuda a medir a atividade do androgenio no sistema reprodutor, porém, devido ao fato de ser encontrado exclusivamente nesses teidos não é relevante para o crescimento muscular.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Metabolismo Básico da Testosterona

Esteroides são classes de medicamentos que contém o hormônio testosterona em forma sintética, ou um outro componente derivado da mesma ou com estrutura molecular parecida.

A testosterona é o hormônio masculino primário, e produzido pelas células de Leyding, nos testículos.

Seus efeitos são mais perceptíveis na adolescência, quando ocorre uma produção normalmente maior do que todo o período de vida da pessoa. Neste período o homem passa por várias mudanças em seu corpo como a mudança no tom de voz, ficando mais grave, crescimento de mais pelos pelo corpo, maior produção de óleo pelas glândulas sebáceas, desenvolvimento do órgão sexual, maturação do esperma e aumento da libido (desejo sexual), podendo ser, estes efeitos, definidos como androgênicos. Além disso, como resultado, temos também efeitos anabólicos no corpo, como maior síntese de proteína.

A produção diária em um homem gira em torno de 2,5 à 11mg por dia, já nas mulheres temos 0,25mg, sendo que o hormônio predominante é o estrogênio.

A testosterona pode interagir com várias células no corpo, como células do músculo esquelético, pele, couro cabeludo, rins, ossos, sistema nervoso central e próstata.

A testosterona corre livre pelo sangue e tecidos, porém, irá interagir apenas com os tecidos que possuem os receptores específicos. Pode-se fazer uma analogia deste processo a associação chave-fechadura. Onde a chave seria o hormônio, e a fechadura o receptor androgênico, responsável por captar esta molécula de testosterona e englobá-la.

O processo começa quando a testosterona é "puxada" pelo receptor androgênico, localizado no citoplasma celular. A partir daí este complexo receptor é "ativado". O complexo (hormônio + receptor) é migrado para o núcleo celular, onde será encaixado em uma seção específica do DNA, responsável pela resposta ao hormônio. Isto irá ativar a transcrição de um gene específico, o qual, no caso dos músculos esqueléticos, o qual, entre outras respostas, irá aumentar a sintese das proteínas contráteis primária, que são a actina e miosina, responsáveis pelo processo de crescimento muscular. Além disso, também ocorre uma maior retenção e estocagem de carboidrato no tecido muscular devido a ação androgênica.



Após este processo ser completado, este complexo é dissociado do núcleo e a conexão hormônio receptor, é desfeita, ficando o hormônio livre em circulação para interagir com outras células. O processo completo do receptor é descrito em passos que são a conexão ao hormônio, migração do complexo, transcrição genética e retorno ao citosol. Este processo leva horas para ser completado. Por exemplo, em testes com a Nandrolona, foi analisado um tempo entre 4 a 6 horas até a molécula do hormônio ficar novamente livre no citoplasma.

Foi sugerido que, este processo também ocasiona um aumento no número de receptores após a finalização do processo.

Nos Rins, este mesmo processo ocorre, porém, com um outro resultado que é a eritropoiese (produção de células vermelhas do sangue), consequentemente aumentando a capacidade de transporte de oxigênio.

Um erro muito comum é associar a eritropoiese exclusivamente a oximetolona ou boldenona. Na realidade este estímulo ocorre com quase todos os esteroides anabólicos/androgênicos, já que a eritropoiese ocorre pela ativação dos receptores androgênicos nos rins, e não como característica de uma droga específica. Uma exceção a este fato são componentes como DHT (dihydrotestosterona) e alguns de seus derivados, que são rapidamente quebrados com a interação da enzima 3-alfa-hidroxysteroid dehydrogenase (3-alpha-HSD), apresentando uma fraca ligação a esse tecido.

O tecido adiposo também é sensível aos androgênicos, alterando o potencial lipolíticos das células, acompanhado da regulação da concentração de receptores beta-adrenérgicos (lipolítico) ou ativiade celular de modo geral (pela adenilato ciclase). Existe uma relação inversa referente a quantidade de androgênicos no corpo e o % de gordura (body fat). Quando ocorre uma redução nos androênicos, há um aumento no acúmulo de gordura e vice-versa.

Outra ativação dos receptores é feita pela conversão da testosterona em DHT pela 5-alfa-redutase. Isso inclui tecidos como glandulas sebáceas, responsável pela secreção de óleo na pele. Com o aumento da produção de óleo na pele, aumenta as chances de entupimento dos poros e consequentemente, o aparecimento de espinhas.




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quarta-feira, 13 de abril de 2016